Os deputados estaduais eleitos em outubro tomam posse nesta sexta-feira (1/2) tendo como primeira missão a eleição da Mesa Executiva da Casa. O atual presidente, Ademar Traiano (PSDB) deve ser reconduzido ao cargo para um novo mandato, com o apoio da base do governador Ratinho Júnior (PSD). Ex-líder do governo Beto Richa na Casa, o deputado Luiz Cláudio Romanelli (PSB) deve ficar com o segundo cargo mais importante, a primeira-secretaria, responsável pela administração do Legislativo estadual.
O acordo para continuar no cargo foi costurado por Traiano no final do ano passado, logo após as eleições. Inicialmente, havia a expectativa de que o deputado federal Fernando Francischini (PSL), que foi eleito deputado estadual com mais de 400 mil votos – a maior votação da história da Assembleia – na esteira da onda que impulsionou a vitória de Jair Bolsonaro na disputa pela Presidência da República – pudesse entrar na briga pelo comando da Casa. Até porque a votação de Francischini levou o PSL de Bolsonaro a eleger a maior bancada da Assembleia, com oito parlamentares.
Usando a experiência de quem está na Assembleia por sete mandatos, o tucano isolou Francischini, atraindo o apoio da maior parte da base do novo governo. Oficialmente, Ratinho Jr afirmou que não iria interferir na disputa interna do Legislativo, mas seus aliados trabalharam para garantir que Traiano conquistasse mais um mandato à frente da Casa. Para isso, o PSL de Ratinho Jr não indicou nenhum parlamentar para a Mesa Executiva.
Quadro Negro
Os partidários da candidatura de Francischini argumentavam que a manutenção de Traiano na presidência da Assembleia sinalizaria incoerência com o discurso de renovação que imperou nas eleições do ano passado. E lembravam que o tucano poderia ser abatido pelas denúncias que envolvem seu nome na Operação Quadro Negro, que investiga desvio de recursos para obras em escolas. Em agosto do ano passado, o Ministério Público abriu inquéritos contra Traiano e o atual primeiro-secretário da Assembleia, deputado Plauto Miró Guimarães, com base na delação do ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação, Maurício Fanini e do dono da construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, afirmando que eles teriam recebido recursos desviados pelo esquema. Ambos negam as acusações.
As investigações, porém, não avançaram, permitindo que Traiano mantivesse a articulação para continuar no cargo. Sem força para se contrapor a Traiano na disputa pela presidência da Assembleia, Francischini deve concorrer ao comando da Comissão de Constituição e Justiça – a mais importante da Casa, por onde passam todos os projetos em tramitação no Legislativo.
O atual presidente, deputado Nelson Justus (DEM), porém, trabalha para continuar no cargo. Justus, entretanto, não tem a simpatia do governo, que vem orientando os aliados a apoiarem as pretensões de Francischini. A disputa, segundo fontes da Casa, deve ser acirrada, já que mesmo sem o apoio do Palácio Iguaçu, Justus ainda tem uma base forte dentro da Assembleia.
Base
Ratinho Jr não deve ter dificuldades para aprovar os projetos de interesse do governo. A estimativa do líder da base aliada, Hussein Bakri (PSD) é de que o governador tenha o apoio de 40 dos 54 deputados. Uma das primeiras pautas será a reforma administrativa promovida pelo governador, que reduziu o número de secretarias de 28 para 15.
Dois deputados foram chamados por Ratinho Jr para o governo: Guto Silva (PSD), que assumiu a chefia da Casa Civil; e Márcio Nunes (PSD), que foi para a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano. A suplente Mara Lima (PSC) assumirá no lugar de Guto Silva, e Hussein Bakri ocupará a vaga de Márcio Nunes.
Casa passa a ter vinte partidos
A nova Assembleia Legislativa que toma posse hoje terá uma pulverização partidária recorde. Ao todo serão vinte partidos com assento na Casa. Mas apesar do clima de mudança que predominou nas eleições do ano passado, a renovação no parlamento estadual ficou dentro da média, em 38%. Dos 54 parlamentares da última legislatura, 32 foram reeleitos. Outros 20 terão a primeira experiência na Casa.
O deputado mais jovem é o universitário Matheus Viníccius Ribeiro Petriv – o deputado Boca Aberta Junior (PRTB), de Londrina, que representa a região Norte e assume a função com 23 anos. Também vem de Londrina o parlamentar mais idoso: é o médico e deputado Tercílio Turini (PPS), 74 anos, eleito para o 3º mandato.
Na bancada feminina, formada por quatro parlamentares, apenas uma estreante: a deputada Mabel Canto (PSC), que representa a região dos Campos Gerais. Ela é advogada, radialista, filha do ex-deputado estadual Jocelito Canto, e foi eleita pela primeira vez para um cargo público. Duas deputadas já ocuparam cadeiras na Assembleia e estão retornando: Cristina Silvestri (PPS), que era primeira suplente de seu partido e chegou a cumprir mandato durante o período em que Douglas Fabrício (PPS) foi secretário Estadual de Esportes; e Luciana Rafagnin (PT), que foi deputada por três mandatos (2003-2006 / 2007-2010 / 2011-2014). Filha da ex-governadora Cida Borghetti (PP), a deputada Maria Victoria (PP) foi reeleita para o segundo mandato.