Lula concede sua primeira entrevista após um ano na prisão

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu a primeira entrevista na cadeia, na manhã desta sexta-feira (26)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu a primeira entrevista na cadeia, na manhã desta sexta-feira (26), desde que foi preso, em abril de 2018. Com autorização da Justiça, os jornalistas Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo e Florestan Fernandes, do El País conversaram com o petista por cerca de duas horas.

“Foi uma entrevista muito boa, o presidente está super bem, ficou feliz em dar a entrevista, fiquei surpreso com o ânimo dele, a disposição”, disse Florestan ao sair do prédio da Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná, em Curitiba.

De acordo com o relato dos jornalistas, Lula conversou sobre diversos assuntos. “Em duas horas deu para falar de todos os temas, de como ele está na prisão, de política nacional, de governo Bolsonaro, de política internacional, ele passeou por todos os temas”, afirmou Mônica.

Do lado de fora, poucos pessoas acompanharam a expectativa gerada pelo dia da entrevista. Alguns militantes petistas do acampamento Lula e colegas de imprensa ficaram postados do lado de fora, aguardando por uma palavra dos jornalistas. Até mesmo um apoiador do presidente Jair Bolsonaro apareceu, mas nenhuma confusão foi registrada.

Veja o vídeo disponibilizado pelo El País Barsil no Facebook:

A saída dos jornalistas da Folha e do El país da PF de Curitiba encerrou uma novela que se arrastou por meses na Justiça. Eles tiveram que entrar com pedidos no Supremo Tribunal Federal (STF) para obter licença para entrevistar o petista na cadeia, em setembro de 2018, semanas antes do primeiro turno das eleições.

Na ocasião, o ministro Ricardo Lewandowski concedeu liminar favorável, alegando que Lula tinha o direito de se expressar. Mas o diretório nacional do partido Novo recorreu dessa decisão e o ministro Luiz Fux, vice-presidente do Supremo, acatou o pedido e proibiu a entrevista. A decisão causou polêmica entre os ministros e acabou arbitrada pelo presidente do STF, Dias Toffoli, que manteve o veto.

A Folha de São Paulo denunciou o caso como “censura prévia”, que só foi revertida uma semana atrás, na esteira da polêmica causada por outro episódio de censura, desta vez à revista Crusoé e ao portal O Antagonista.

Pressionado, o STF derrubou o veto judicial à revista e na sequência autorizou que o ex-presidente concedesse a entrevista à Folha e ao El País.

Exclusiva, mas nem tanto

As entrevistas foram agendas para esta sexta-feira (26), mas o superintendente regional da PF no Paraná, o delegado Luciano Flores de Lima, resolveu, de forma controversa, que as entrevistas não seriam exclusivas e que outros veículos de imprensa poderiam acompanhá-las, embora sem poder fazer perguntas. Os jornalistas que poderiam acompanhar seriam escolhidos pela própria PF.

A defesa de Lula protesto contra isso e recorreu ao STF, alegando que a PF estaria descumprindo a decisão da Corte. O ministro Lewandowski reiterou então, mais uma vez, que as entrevistas deveriam ser exclusivas.

Nesta sexta, Florestan Fernandes e Mônica Bergamo disseram que foram bem atendidos pela PF. Perguntado sobre o imbróglio, Florestan disse que em décadas de carreira nunca tinha visto algo assim.

Defesa diz que não pensa em semiaberto

O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, disse que a entrevista ocorreu com normalidade, “apenas talvez com atraso significativo”, dadas as proibições anteriores.

Perguntado se entraria com um pedido de progressão ao regime semiaberto para Lula, após a decisão mais recente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que reduziu o tempo da pena do petista, Zanin desconversou.

“Nós não temos nenhuma estratégia definida, o foco da defesa é a busca pela inocência, a absolvição do ex-presidente, este é o foco e é desta forma e deste objetivo que nós atuamos e continuaremos atuar”, explicou.

Com um sexto da pena cumprida, o que deve se completar em setembro deste ano, Lula poderá deixar o regime fechado, desde que não seja condenado novamente em segunda instância, agora no processo do sítio de Atibaia.

 

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