Embrapa prepara 1º feijão transgênico do Brasil; entenda os impactos

A Embrapa está preparando o lançamento da primeira cultivar de feijão transgênico do Brasil...

A Embrapa está preparando o lançamento da primeira cultivar de feijão transgênico do Brasil. A novidade está gerando polêmica no setor e separamos 10 coisas que você precisa saber hoje sobre o assunto:

  1. Feijão transgênico resistente à doenças

Desenvolvida pela Embrapa, a cultivar de feijão RMD, geneticamente modificada, é resistente ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro comum (transmitido pela mosca branca) que causa uma das principais doenças da cultura. Segundo a Embrapa, as ocorrências de mosaico dourado influenciam, com frequência, na oferta e no preço do produto. A nova cultivar tem como um dos objetivos principais garantir o abastecimento interno e a estabilidade de preços.

  1. Como comprar a cultivar de feijão transgênico

O lançamento da cultivar transgênica de feijão BRS FC 401 RMD está previsto para o primeiro semestre de 2019 e será ofertado ao mercado brasileiro por meio de empresas de sementes via licenciamento. A multiplicação das sementes ocorrerá no plantio de inverno, até maio, e atenderá o mercado a partir de outubro para a safra 2019/2020.

  1. A transgenia estará disponível para qual cultivar de feijão?

A tecnologia RMD estará presente somente para cultivares de feijão carioca, plantado e consumido no Brasil.

  1. A cultivar é recomendada para quais regiões do Brasil?

A recomendação da cultivar é para o plantio na região central do país, onde há pressão de mosca branca e do vírus mosaico dourado.

  1. Qual vai ser o preço da cultivar?

A Embrapa não tem definido o preço da cultivar de feijão transgênico, apesar disso, estima que o quilo deva variar entre R$ 4 e R$ 5.

  1. Opinião do Instituto Brasileiro do Feijão sobre a cultivar transgênica

O Instituto Brasileiro do Feijão se manifestou contrário ao lançamento da cultivar de feijão transgênico e prevê danos ao mercado se a variedade for lançada pela Embrapa. Segundo o presidente do Ibrafe, Marcelo Lüders, a ideia de feijão geneticamente modificado pode impactar a percepção do consumidor e afetar a imagem dos feijões do Brasil no mercado externo.

“A colheita começa mês que vem e os importadores vão se aproveitar e isso pode gerar dificuldades na comercialização. Vamos ter que lutar para diferenciar perante o consumidor o convencional do transgênico.  Se houver o lançamento, que o produtor busque primeiro fazer contrato do feijão e busque achar quem vai comprar dele”. Lüders afirma que a entrada do transgênico pode gerar oportunidades de negócios para o mercado de feijão convencional no Brasil, que tendem a investir em estratégias de marketing de diferenciação para agregar valor ao produto nas gôndolas de supermercado

  1. Visão do Exportador

O gerente de comércio exterior da Coperaguas, uma das maiores exportadoras de feijão do Brasil, alerta que com a entrada do produto transgênico no mercado, o consumo da leguminosa pode diminuir. “Deve-se tomar cuidado na questão do feijão transgênico, porque pode acabar afetando negativamente o consumo interno. Há essa resistência do consumir por transgênicos e isso pode desmotivar o consumo do feijão”, afirma.

  1. O que pensa o empacotador de feijão

O gerente da Kicaldo Alimentos, Mauricio Bortolanza, afirma que não é favorável ao lançamento da cultivar transgênica de feijão. “O consumo de feijão já vem em queda ao longo dos anos e esse fato geraria insegurança no consumidor, devido a falta de informações corretas e dificuldade na rastreabilidade do produto, com possíveis perdas imensuráveis pro mercado. Não somos contra o uso da biotecnologia, porém no momento a cadeia não vê com bons olhos o lançamento. O feijão pode sair mal dessa história”.

  1. Segurança para o consumidor

Segundo a Embrapa, a segurança alimentar, humana e animal, do feijão RMD foi demonstrada por vários estudos durante o processo de liberação comercial junto à CTNBio, que confirmaram que sua composição é equivalente à de outras cultivares de feijão comum cultivados no Brasil.

  1. Manejo

Segundo a Embrapa, a cultivar transgênica representa uma oportunidade para o agricultor estabelecer um manejo eficiente e com impacto financeiro muito menor para a doença do mosaico dourado já que atualmente o controle da doença é responsável por até 20 operações de aplicação de inseticidas que chegam a custar, cada uma, por volta de R$ 100 por hectare. Em nota, a empresa disse que com o feijão RMD o agricultor pode ganhar tanto no custo de produção, com a redução de uso de químicos, como na produtividade, sem a ocorrência da doença.

  1. Efeito nas exportações

Segundo o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Thiago Lívio, a crítica mais presente contra a cultivar transgênica é sobre os efeitos que poderia gerar no mercado de exportação de feijão, o que não deve ocorrer segundo Lívio.

“Não vai atrapalhar as exportações porque o mundo não consome feijão carioca. O que o Brasil exporta é feijão como o caupi ou grão de bico. A variedade é para resolver um problema genuinamente brasileiro e para a oferta do feijão carioca produzido no Brasil”, afirmou.

  1. Contaminação genética

De acordo com o Consultor de Agronegócios e doutor em Ciência e Tecnologia de Sementes pela UFPel, Dejalma Zimmer, o risco de contaminação genética pode existir.

“Não vejo problema algum com relação a essa tecnologia lançada pela Embrapa. Até acho louvável que após tantos anos de pesquisa a instituição e os pesquisadores envolvidos vejam o seu trabalho virar um produto que pode diminuir o custo de produção e o uso de agroquímicos, nas lavouras de feijão. Por outro lado, as considerações do Marcelo Lüders são muito oportunas e mostram a preocupação de quem conhece muito bem o mercado. E o mercado é sempre soberano, contra ele é difícil trabalhar. Quero apenas acrescentar mais uma questão nesta discussão. O feijão possui uma pequena taxa de fecundação cruzada – próximo de 3%. Considerando que há muitos insetos visitando as lavouras e que boa parte da semente utilizada não é certificada, há um risco elevado de que a médio prazo variedades não transgênicas passem a apresentar contaminação genética. Isso poderia aumentar os custos com segregação e atrapalhar o mercado”.

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