O chefe do setor comunicação da Polícia Rodoviária Federal, Fernando Cesar Borba de Oliveira, foi afastado do cargo pela cúpula da corporação, em Brasília, após a veiculação de uma reportagem que mostrava o aumento do número de acidentes nas rodovias federais com o relaxamento das medidas de isolamento social motivadas pela pandemia do coronavírus. A demissão foi publicada no Diário Oficial da União na última segunda-feira.
Ao jornal O Estado de São Paulo, Oliveira, que está há sete anos na corporação e ocupava o cargo há três anos, afirma que a demissão foi motivada por um suposto “desalinhamento” das informações prestadas por ele à imprensa em relação à operações de fiscalização com radares de velocidade. Além disso, a direção da PRF em Brasília também teria considerado que o policial e jornalista estaria contrariando a posição política do governo Bolsonaro, que defende a flexibilização do isolamento. Com o afastamento, Oliveria terá que voltar ao serviço operacional nas rodovias. Além disso, a PRF determinou que todas as informações a serem passadas ao público ou à imprensa têm que ser centralizadas na Coordenação-Geral de Comunicação Social (CGCOM), em Brasília.
Na reportagem, o agente teria destacado a necessidade de aumentar a fiscalização para evitar acidentes graves para não sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde já congestionado pela pandemia. “Setores da direção da polícia em Brasília não gostaram do teor de uma reportagem televisiva sobre acidentes de trânsito nas rodovias federais, veiculada em rede nacional, na manhã do último dia 15”, contou ele ao Estadão. “Minutos após a veiculação da reportagem, houve ao menos um telefonema de Brasília para a superintendência no Paraná, no qual o diretor executivo da PRF alegaria um ‘desalinhamento’ da matéria, pelo simples fato de mostrar uma ação de fiscalização de radar e de supostamente conter uma defesa das medidas de isolamento social – dois temas considerados ‘sensíveis’ aos olhos do presidente da República”, explicou Oliveira.
Segundo o agente, a motivação da demissão seria política. “A alegação para a saída é de que haveria um desgaste em relação ao Departamento, em Brasília. ‘Desgaste’, ‘desalinhamento’, ‘momento político’ – basicamente foram as expressões utilizadas. Acredito que o termo chave seja esse: desalinhamento. Mas a pergunta que cabe nesse caso é: desalinhamento em relação a que exatamente?”, questiona ele.
De acordo com Oliveira, desde o segundo semestre de 2019, o setor de comunicação da PRF passou a ter uma lista de assuntos proibidos, como a questão dos radares, depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) determinou a retirada dos equipamentos de fiscalização das rodovias federais, mas a decisão foi revertida pela Justiça. “A situação ficou tão bizarra que, quando a pauta de uma entrevista dizia respeito a trânsito, o policial na função de porta-voz chegava à situação extrema de ter que memorizar de antemão a lista de temas proibidos, sobre os quais ele não poderia falar, porque o presidente havia feito declarações polêmicas sobre ele nas últimas semanas. Desde radar até a exigência de cadeirinha para transportar crianças, passando por exame toxicológico, entre outros assuntos”, relata o policial.
Segundo ele, desde então, a PRF passou a ser proibida de divulgar imagens de flagrantes de alta velocidade. “De lá pra cá, porém, ficamos impedidos de fazer esse tipo de divulgação nos estados, tanto das imagens quanto dos números. O assunto ‘radar’ passou a ser um tabu”, contou.
De acordo com Oliveira, a chefia da PRF em Brasília determinou que fossem apagadas imagens disponibilizadas pela comunicação da corporação no Paraná com flagrantes de infrações e fiscalizações. “A ordem foi transmitida poucas horas após a veiculação da reportagem que desagradou Brasília, através da Superintendência Executiva da PRF no Paraná”, disse.