O Paraná está ameaçado de perder o seu terceiro maior comprador de produtos do agronegócio. O Irã foi responsável por injetar no agro estadual quase R$ 900 milhões no primeiro semestre de 2019 – resultado inferior apenas à China e aos Estados Unidos. Para se ter ideia da importância do país do Oriente Médio nas exportações, das 2,5 milhões de toneladas que o Brasil inteiro enviou ao Irã este ano, 900 mil saíram do Estado paranaense, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A ameaça de rompimento comercial com o Brasil foi verbalizada pelo embaixador do Irã em Brasília, Seyed Ali Saghaeyan, no dia 24 de julho. A declaração ocorreu em retaliação ao fato de dois navios iranianos estarem parados no Porto de Paranaguá desde o início de junho, com seus tanques de combustível vazios. Isso porque a Petrobras, alinhada ao novo posicionamento geopolítico da diplomacia brasileira de apoio aos Estados Unidos, decidiu não fornecer combustível às duas embarcações seguirem viagem de volta, carregadas de milho, em razão de sanções dos norte-americanos ao país do Oriente Médio.
A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) se opõe ao embargo contra os navios iranianos, pois as sanções econômicas contra o Irã não devem ser aplicadas em caso de transporte de alimentos. O mesmo vale para medicamentos e equipamentos médicos. O transporte de comida está previsto no que se encaixa como ‘exceção humanitária’.
“A recusa da Petrobras em fornecer combustível para os navios iranianos traz péssimas consequências para o setor agrícola do Brasil. Além de ser o maior importador de milho brasileiro, o Irã é um dos principais compradores de produtos importantes para o país e para o Estado do Paraná. A paralisação dos navios também compromete a qualidade da carga de milho, que pode ser devolvida e trazer prejuízos para exportadores brasileiros”, diz o presidente da FAEP, Ágide Meneguette.
O economista do Sistema FAEP/SENAR-PR Luiz Eliezer Ferreira reitera o potencial perigoso que sanções do tipo podem refletir para os negócios do Paraná, que se destaca há décadas como um grande player internacional, fornecedor de alimentos seguros e sustentáveis para inúmeras nações no mundo inteiro. “O Irã é um dos principais parceiros comerciais do Paraná em produtos do agronegócio, este imbróglio geopolítico pode prejudicar bastante nossa balança comercial com o país islâmico, que neste momento é bastante superavitária”, reforça.
Justiça
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, determinou, também no dia 24 de julho, que a Petrobras abasteça os dois navios com bandeira do Irã parados em Paranaguá. A decisão ratificou sentença do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), mas que estava suspensa por um recurso da Petrobras no STF.