Quando entrarem no Maracanã para enfrentar a Venezuela, Aguero e Messi retornarão ao campo onde sofreram a maior derrota de suas carreiras: a queda na final da Copa do Mundo-2014. Aquele resultado marcou o time argentino de tal forma que, a partir daí, houve uma sequência de fiascos, trocas de treinadores, jogadores em desgraça, crise. É como se o futebol "albiceleste" tivesse perdido o rumo naquela tarde.
Um sinal disso é que, do grupo que esteve no Brasil, só sobraram Aguero, Messi e Di Maria, na seleção da Copa América. No banco, Lionel Scaloni é o quarto técnico à frente do time argentino depois daquela tragédia, e certamente o de menor prestígio. É um sinal da decadência contínua do time como consequência também da desorganização da AFA (Associação de Futebol Argentino).
Pelo menos com o técnico Tatá Martino, que substituiu Sabella após a Copa do Mundo, a Argentina ainda emplacou duas finais de Copa América, em 2015 e 2016. Mas, a partir daí, sofreu com as constantes trocas de ideia, com Bauza e depois com Sampaoli no Mundial-2018.
Mais uma vez, na Copa América do Brasil, falta uma convicção do que será o time argentino que já mudou bastante em relação ao que iniciou a competição. Scaloni não deu a escalação para enfrentar a Venezuela, um pouco porque ainda tem dúvidas, e um pouco para esconde-la do técnico Rafael Dudamel, que comanda da Vinolento.
"Antes dava sempre equipe, e agora mudei um pouco por isso (dúvida). E também para dar um despiste e o técnico rival não saiba o que pode enfrentar", comentou Scaloni.
É provável que tenha Lautaro Martinez com Aguero à frente, e Messi próximo deles como meia por trás, reforçando a marcação com três homens no meio para compensar. Di Maria, de titular, tornou-se reserva.
Essa falta de rumo é o que leva os venezuelanos a acreditarem ser possível bater a antes toda-poderosa Argentina. Já houve até uma vitória da Venezuela em amistoso entre os times neste ano.
"Esse caminho que encontramos nos faz sentir que vamos reduzindo as distâncias com a qualidade de jogadores. Há uma história de 50/70 anos que não é fácil reduzir em uma Copa América. Quando miramos o presente, nossa gente sente que temos bom nível e podemos competir, isso nos dá felicidade", contou Dudamel.
Não é uma opinião isolada. Entre os argentinos, também há o reconhecimento de que a distância diminuiu, embora Scolari minimize a derrota no amistoso para os venezuelanos.
"O futebol evoluiu, o Qatar evoluiu. Todos emparelharam. A Argentina há muito que não ganha nada, então, teria coisas para melhorar. Hoje qualquer equipe pode dificultar. Todos os venezuelanos jogam foram e isso ajuda. Estão em times bons. E não tanto (a redução de vantagem argentina) porque a Argentina não tem crescido", analisou Scaloni
Um dos mais jovens do time, o atacante Lautaro reconheceu que o longo período sem títulos – o último relevante foi a Copa América 1993 – pesa sobre o time. "Pressão não sei se é a palavra que usaria. Mas há necessidade porque futebol argentino é muito grande, estamos em crescimento. Essa é a verdade, estamos em processo, no caminho", concluiu.
Por isso, ao entrar no Maracanã, Messi certamente terá lembranças daquela final do quase de 2014, quando o excesso de gols perdidos derrubou a Argentina diante da Alemanha. O próprio camisa 10 desperdiçou um chute à frente de Neuer quando bateu para fora apesar de estar com o corpo equilibrado e sem marcação. Para não falar na chance de Higuaín, ou em um gol anulado.
Não são boas recordações. Por isso, e por haver poucos remanescentes, se fala pouco sobre aquela partida no grupo da Argentina. "São poucos que estiveram nesta final. É uma recordação para quem estava vai ter. Mas não se escutou muito (sobre aquele jogo)", disse Scaloni.
No mesmo Maracanã, portanto, os argentinos tentam esquecer o passado para reconstruir o rumo de seu futebol.