Os críticos dos campeonatos europeus têm alguns argumentos que eram duros de rebater. A variação de campeões – a falta de na verdade – era uma delas. É difícil gostar de campeonatos que você sabe que dois times vão dominar e que o placar está basicamente decidido antes da bola rolar.
Por anos o Campeonato Inglês foi assim, especialmente a partir da instituição da Premier League em 1992. Mas isso mudou de forma marcante nas últimas temporadas. Os médios se revoltaram e tomaram o poder.
Domínio completo por anos
O Manchester United venceu o campeonato inglês em 1966/67 mas depois ficou mais de duas incômodas décadas sem o título nacional. Ter vencido logo no primeiro ano da Premier League, a liga criada pelos clubes para organizar a competição da primeira divisão foi algo significativo. O time venceu de novo no ano seguinte, teve um bi em 1995/96 e 1996/97, emendou um tri em 1998/99, 1999/00 e 2000/01, foi campeão em 2002/03, tri em 2006/07, 2007/08 e 2008/09 e ainda teve mais dois em três anos: 2010/11 e 2012/13.
Por anos apostar no United para ser campeão era uma boa pedida e quando não eram eles, o Arsenal surgia com força.
Mas desde 2013 os diabos vermelhos não vencem mais. A aposentadoria de Alex Ferguson é claramente uma das razões para isso, mas o dinheiro continuou jorrando no lado vermelho de Manchester, ou seja, os recursos para ser campeão existem. O que acontece portanto?
A ascensão dos médios
O futebol inglês sempre teve equipes fortes até de cidades menores que conseguem vencer o título inglês. O Blackburn Rovers venceu seu terceiro título em 1994/95. O Leeds United tambémtricampeão, Nothingham Forrest, Ipswich Town, Derby County e Burnley sãotodoscampeões.
Mas isso começou a ficar mais raro quando os clubes grandes começaram a ter mais fontes de receita, seja torcida nos estádios, conquistas além da Inglaterra, direitos de televisão, produtos licenciados e a lista continua.
A forma para os médios voltarem a ter poder foi mediante a venda para multimilionários ou bilionários. O Chelsea tinha apenas dois um título inglês nos anos 50 antes de ser comprado pelo russo Roman Abramovic. Logo de cara foi bicampeão nacional em 2004/05 e 2005/06 com o comando de José Mourinho. Depois somou mais três títulos para chegar nos seis atuais.
O Manchester City era o patinho feio de sua cidade. Enquanto o United tinha múltiplas conquistas nacionais, já era campeão da Europa e do mundo e tinha múltiplos craques em sua história, o City precisava olhar para os anos 60 para lembrar de uma conquista de peso. Mas a compra do clube pelo Abu Dhabi United Group mudou a história do City, que venceu o Campeonato Inglês em 2011/12 e depois somou mais três Premier Leagues, a compra de diversos craques e a chegada de Pep Guardiola, um dos melhores treinadores do mundo.
Mas o caso mais lembrado, claro, é o do Leicester. A compra feita pelo bilionário tailandês VichaiSrivaddhanaprabha mudou o clube e a improvável conquista do campeonato em 2015/16 marcou o mundo do futebol. Mas não foi só algo do acaso: o time segue forte disputando posições lá em cima.
Hoje o Campeonato Inglês é composto por clubes que têm donos claros, inclusive os gigantes. Mas Manchester United e Arsenal especificamente somam campanhas decepcionantes e definitivamente perderam espaço nos anos 2010.
Claro que conseguir a virada não é algo difícil e o Liverpool está aí para provar. O clube chegou a ficar em oitavo por duas temporadas e por anos estava em uma segunda categoria do futebol inglês. A compra do time por um grupo americano e especialmente a chegada do alemão JurgenKlopp fez o time se reerguer, vencer a Liga dos Campeões e ser campeão inglês depois de três décadas na temporada 2019/20.
Dinheiro todos os clubes têm com a fonte inesgotável dos direitos televisivos e estádios cheios. Mas planejamento esportivo e um treinador de primeira linha fazem toda a diferença. Mesmo assim os grandes agora precisam disputar com os médios em uma Premier League que está mais próxima da emoção e imprevisibilidade do Brasileirão.