Principal promessa recente da base do Inter, João Peglow exibe o espírito competitivo por onde passa. Em casa, não perde a oportunidade de tirar onda ao vencer o irmão Eduardo no videogame, sempre no controle de Cristiano Ronaldo – uma das suas inspirações no futebol. A joia colorada fará sua primeira temporada integrada ao grupo principal do time do coração. Campeão do Mundial sub-17 pelo Brasil, agora guarda o sonho de formar uma trinca ofensiva com D'Alessandro e Paolo Guerrero e fazer seu primeiro gol no Beira-Rio. Será uma das novidades de Eduardo Coudet neste início de 2020.
– Isso tudo é fruto do meu trabalho. Trabalho desde os nove anos para isso. Se subir, estarei preparado para dar o máximo. Subir como uma joia… É uma felicidade, mas não gosto de levar isso ao campo. Gosto de agir normal, porque para mim talvez eu seja mais um. Procurarei fazer o máximo para fazer história aqui no Inter – diz em entrevista ao GloboEsporte.com.
Em 17 de novembro, o meia-atacante participou da vitória por 2 a 1 sobre o México, que culminou com o quarto título da seleção no Mundial sub-17. A conquista chama ainda mais atenção pelo Brasil só ter disputado por ser o país-sede, já que não tinha assegurado vaga por meio classificatório. Camisa 10 da equipe do técnico Guilherme Dalla Déa, o garoto marcou três gols na competição.
Peglow fez dois na estreia, na goleada por 4 a 1 sobre o Canadá. O outro na vitória por 2 a 0 sobre a Itália, em confronto válido pelas quartas de final do Mundial. Os gols aliás, evidenciaram outras facetas do jogador: a de profeta e apegado à família.
– Falei que faria dois gols na estreia e consegui. Fiquei feliz. Dei uma caída nos outros jogos, algo normal na vida de atleta. O gol contra Itália foi importante também. Falei que estava um pouco cabisbaixo, não estava feliz com algumas atuações. Contra o Chile, nas oitavas de final, fui substituído e não joguei bem. Falei com meus empresários e com minha família. Eles chegaram no dia do jogo contra a Itália de manhã e de noite joguei muito bem e fiz gol. Negócio doido. Fiz o gol pra eles – diz orgulhoso.
João Peglow com o irmão Eduardo — Foto: Tomás Hammes/GloboEsporte.com
O estil
Peglow gosta de acompanhar a performance. Pega os "scouts" com o departamento de análise do clube para avaliar o que produziu e o que pode aprimorar. O objetivo principal é ver a direção do chute. Apesar de preferir receber na direita, gosta de saber quantos chutes foram ao alvo, mesmo que não tenham balançado as redes.
A predileção pela finalização vem de sua inspiração. O garoto de 17 anos tem Cristiano Ronaldo como modelo. Embora brinque que seja mais humilde, valoriza o fato de o astro da Juventus jamais acomodar-se.
– Ele tem 34 anos e está em alto nível ainda. Muito melhor que outros jogadores mais novos. isso mostra a mentalidade que ele tem. Se ver os números dele, ele erra pouco o gol. Está sempre em busca do gol, pode ser na trave. Isso é impressionante. Gosto muito de vê-lo finalizar a gol, à média distância, longe, de perto, ele está sempre bem posicionado.
Gol do Brasil! Peglow amplia a vantagem com um contra-ataque rápido, aos 39 do 1º tempo
A família
João Peglow é "muito família". Quem conta Léa, a mãe de Peglow. Ou melhor, João Gabriel, como é chamado em casa. A matriarca, aliás, fala sobre a saudade do colorado e a importância dos familiares próximos nos jogos importantes.
– O João Gabriel é muito família. Nós somos muito família, então sente muito. Foram 50 dias longe de casa, dos pais, dos manos e corremos para dar um apoio. Não só a ele, também há outros meninos que o pais não estão e nos abraçamos. Um chamego neles. Carinho de mãe é bom, né? É muito bom isso. Chegamos lá e foi o máximo, com o gol dele. Foi bacana demais. Não tem nem explicação a emoção que vivemos – valoriza.
João Peglow, a mãe Lea e o irmão Eduardo — Foto: Tomás Hammes/GloboEsporte.com
Mãe e filho, aliás, terão outro momento juntos em breve. Apaixonados por tatuagens, eternizarão o feito de Peglow na pele. O meia-atacante fará a sua primeira, com a taça da Copa do Mundo e a frase "Deus abençoe minha família". Já Léa, que tem no corpo o distintivo do Inter, o Saci e o autógrafo de D'Alessandro – para não deixar qualquer dúvida sobre o time do coração –, aumentará a coleção. A ideia é reproduzir o gol contra a Itália com a assinatura do rebento.
Parceria com ídolos
A admiração por D'Alessandro dividirá espaço com o companheirismo. A dupla, aliás, já tem relação. Ainda sob a batuta de Odair Hellmann, Peglow foi apresentado ao grupo pelo então técnico. Principal líder do vestiário, o camisa 10 o introduziu ao grupo, com o "batismo".
Além das brincadeiras, Peglow ainda conversou com Paolo Guerrero, Marcelo Lomba e Víctor Cuesta, com quem troca ideias nas redes sociais. Agora conta os minutos para estar no convívio diário dos parceiros. Principalmente do camisa 10.
– Todo jogador tem que sonhar grande. Eu sonho primeiramente jogar no Inter, em jogar com o D’Ale, que está há 11 anos já. É um ídolo colorado, da minha mãe, que tem tatuagem do autógrafo dele. É uma felicidade enorme poder treinar com ele. Fico muito feliz com isso. É um exemplo – vibra.
João Peglow será uma das alternativas de Eduardo Coudet em 2020 — Foto: Eduardo Deconto
Nos últimos treinos do ano, com Zé Ricardo no comando, Peglow já esteve inserido no contexto. Trabalhou com os futuros parceiros, até como forma de acelerar a ambientação. No time de cima, voltará a dividir espaço com os amigos Heitor, Bruno Fuchs, Erik e Johnny, companheiros da base.
O conhecimento do vestiário será um dos trunfos para confirmar seus valores a Coudet e ganhar espaço. O objetivo é mostrar dedicação nos treinamentos para que o chefe dê oportunidades ao longo da temporada. Como atacante, pensa em gols.
Colorado desde sempre, Peglow acostumou-se a apoiar o time nas arquibancadas. Sempre gostou de cantar "Camisa vermelha", um dos principais hits nas arquibancadas do Beira-Rio. O garoto já imagina como comemorará quando balançará a rede pela primeira vez.
– Imagino dentro do Beira-Rio e ir para a Popular, pô! Já fui em muito jogo na Popular, pulava com meus irmãos. Era torcedor de tirar a camisa, fazer festa, mas hoje não dá muito – diz.
Colorado desde sempre
A paixão pelo clube, claro, é quase obrigatória em casa. Ninguém sonha com outra que não seja o Inter. A janela aberta que dá para a rua já denuncia a toalha vermelha em um dos banheiros. Em casa, as fotos dividem espaço com momentos do Inter, como o boneco de Fernandão com a taça do Mundial de 2006. Antes de frequentar o estádio para pular e cantar por seus ídolos, a memória de Peglow era inundada pelo time do coração.
– Lembro de um que o Andrezinho fez um gol de falta contra o Flamengo (vitória por 2 a 1 pelas quartas de final da Copa do Brasil). Teve outro fora de casa, do Estudiantes (derrota por 2 a 1 que colocou o time nas semifinais da Libertadores de 2010), com o gol do Giuliano. Saímos para jantar e ver o jogo. Meu pai sempre foi do Consulado do Inter. Estávamos no restaurante, lembro que o Estudiantes vencia e eles começaram a soltar foguetes, mas a fumaça os atrapalhou. Não viram a bola e ela entrou no chute do Giuliano – recorda.
A parceria futebol-família-Inter vem desde os primeiros passos do menino. Com quatro anos começou a ser levado pelo pai, Jorge, às escolinhas de futsal. Dois anos depois já jogava no Colorado, no antigo Estádio dos Eucaliptos, no início da zona sul da capital gaúcha. Então Peglow encontrou o primeiro obstáculo. Mesmo que não tenha enfrentado dificuldades, o dinheiro também passava longe de sobrar em casa. A situação o fez deixar o clube do coração para seguir no futsal.
O tempo, no entanto, o faria voltar ao principal amor. Mais dois anos passaram até um jogo contra o Grêmio Náutico União. Um dos clubes sociais mais tradicionais de Porto Alegre, a equipe contava com jogadores da dupla Gre-Nal. O treinador, inclusive, trabalhava no Colorado e o informou que o desejavam tê-lo de volta.
O talento natural o fez subir as categorias do clube e alcançar as seleções de base. A paixão pelo futebol não era dele apenas. O irmão mais velho, Nathan, também atuou na base e Peglow implorava aos pais para vê-lo em campo.